segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Palestra completa de Angela Davisna UFBA em Julho das Pretas

Com tradução de Raquel Souza e transcrição feitas pelas ativistas Carol Correia e Monyque Assis, leia a  palestra “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo” de Angela Davis, no Julho das Pretas, em 25 de julho de 2017, no salão nobre da reitoria de UFBA, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres Afrolatinas e Caribenhas

 

Introdução da palestrante [palavras da própria gravação]

Angela Davis é filósofa, ativista feminista e defensora dos direitos civis da população negra. Fez parte do Panteras Negras e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Em 1970, foi perseguida e presa. Ativistas tomaram as ruas exigindo: “Libertem Angela Davis!”. Publicou em 1981 uma de suas mais importantes obras: “Mulheres, Raça e Classe”. O livro transmite sua militância em defesa das políticas de igualdade de gênero e combate ao racismo. Considera que raça, classe e gênero estão entrelaçados e que juntos podem criar diferentes tipos de opressão.

Palestra em homenagem ao dia 25 de julho, Dia da Mulher Afro-Latina e Caribenha.

Boa noite. Eu não consigo dizer a vocês quão emocionada eu estou em estar na presença de vocês essa noite. Isso certamente é como deveria ser a aparência de uma Universidade. Eu gostaria de agradecer Ângela Figueiredo, a Odara, ao Centro de Estudos de Gênero da UFBA, por me convidar para vir aqui e homenagear o dia 25 de julho. Essa é minha quarta visita a Bahia e a minha sexta visita ao Brasil e nesse momento eu me sinto extremamente envergonhada por ainda não ter aprendido português. Então esse será meu próximo projeto!

Eu estou muito feliz de estar aqui celebrando o Dia de Mulheres Afro-Latinas e Caribenhas e eu sei que aqui esse dia é conhecido como Julho das Pretas. Então eu estou muitíssimo entusiasmada de estar aqui no Brasil, especialmente porque eu tenho acompanhado recentes situações dentro do Movimento de Mulheres Negras e me parece que, nesse momento contemporâneo, as mulheres negras brasileiras representam o futuro do Movimento.

Mulheres negras no Brasil têm uma história bastante longa em envolvimento em lutas em prol da liberdade. Como tem sido simbolizada pela continuidade da Irmandade da Boa Morte. O conceito de Boa Morte em si nos faz imaginar um futuro melhor. Isso me leva a reconhecer as amplas contribuições das mulheres negras no Brasil e na Bahia em termos da cultura religiosa desse local. Durante essa visita eu fui honrada com a possibilidade de atender uma oficina dentro da Irmandade da Boa Morte.

E, também, em de passar tempo com Dona Dalva com quem tive a oportunidade de aprender sobre o papel de Dona Dalva em preservar o samba de roda e ela recebeu um diploma de doutorado honoris causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Eu gostaria de ressaltar que alguns anos atrás fui honrada pelo convite de conhecer o terreiro e de me encontrar com Mãe Estela. E elas me disseram sobre seus esforços de preservar a cultura e a religiosidade dentro das tradições baianas e que as mulheres negras estavam no cerne dessas tradições.
Como foi dito por Dulce Pereira, eu já venho ao Brasil desde 1997 e eu nunca irei me esquecer daquele encontro que ocorreu em 1997 em São Luís no Maranhão. Tive a oportunidade de encontrar Luísa Barros pela primeira vez e o espírito delacontinua a viver e a estar aqui presente conosco.

E também encontrei pela primeira vez, Vilma Reis e tantas outras mulheres negras maravilhosas, em qual eu continuo a me encontrar todas as vezes em que venho ao Brasil.
A atual visita organizada pela Professora Doutora Ângela Figueiredo foi um encontro organizado em conexão a uma reunião mais ampla, a um curso organizado em Cachoeira sobre Feminismo Negro Decolonial. E eu agradeço a Ângela, em que toda vez que alguém chama seu nome [de Ângela Figueiredo], eu também olho, mas eu agradeço a ela por ter me convidado de novo e de novo para vir a Bahia. As pessoas me perguntam “você já foi ao Rio de Janeiro”, eu digo “não”; “você já foi a São Paulo?”, eu digo “não, mas eu já fui a Salvador, Bahia, várias e várias vezes”.

Eu menciono essa escolha porque ela reuniu estudantes negras do Brasil, da América do Sul, da África do Sul, do Canadá, dos Estados Unidos e do Porto Rico e, ao fazê-lo, produzir concepções importantes que poderiam não ter sido disponibilizadas, se esse encontro não fosse corrido. Todos nós que tivemos a oportunidade de virmos de outras partes do mundo, temos muita sorte de estarmos aqui nesse momento, onde o ativismo de mulheres negras está elevado; a gente está pela gente.

E como já foi dito e reiterado várias vezes, o movimento social liderado por mulheres negras é o movimento social mais importante do Brasil.
Após o Golpe antidemocrático que resultou na retirada de Dilma Rousseff, após a ocorrência desse golpe de Estado, as mulheres negras criaram a melhor esperança para esse país. Muitas de nós nos Estados Unidos estávamos muito entusiasmadas acompanhando a Marcha das Mulheres Negras no Brasil em novembro de 2015 e nós continuamos a sentir as reverberações dessa marcha e  estamos no Julho das Pretas.
Este é um momento difícil para o nosso planeta por vários motivos, principalmente em função de termos uma guinada para a Direita na Europa, nos Estados Unidos, na América do Sul, especialmente aqui no Brasil.

Eu não tenho nem como explicar para vocês qual é a sensação de morar nos Estados Unidos, no qual Donald Trump é o presidente, mas não devemos nos esquecer que um dia após a posse dele, o Movimento de Mulheres trouxe para Washington três vezes mais pessoas do que o número que atendeu a cerimônia de posse de Donald Trump. Estima-se que mais de 5 milhões de pessoas participaram na Marcha das Mulheres contra Trump por todo o mundo, até na Antártica.

A Marcha das Mulheres em Washington foi liderada por mulheres negras, latinas, asiáticas, indígenas, muçulmanas e também mulheres brancas. Nós nos encontramos em Washington e por todo o mundo de todos os países para dizer que: "Nós resistiremos, nós resistiremos! Todos os dias da presidência de Donald Trump, nós resistiremos! Nós resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado. Nós resistiremos a islamofobia e ao preconceito contra pessoas portadoras de deficiências físicas e nós defenderemos o meio ambiente dos ataques insistentes e predatórios do capital."

Aqui em Salvador, no dia 25 de julho, o dia dedicado às mulheres negras na América Latina e no Caribe, dizemos de forma ainda mais forte, com a força e o poder das mulheres negras nessa região: Nós resistiremos! Nós sabemos que as transformações históricas sempre começam com as pessoas, essa é a mensagem do Movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matter), quando as vidas negras começarem a realmente ter importância, isso significará que todas as vidas têm importância. E podemos dizer também, especificamente, que quando as vidas das mulheres negras importam, então o mundo será transformado e nós teremos a certeza, então, que todas as vidas importarão. As lutas das mulheres negras estão conectadas às lutas de pessoas oprimidas em todas as partes.
Para aqueles que dizem não às políticas anti-imigração de Donald Trump e a construção de seu muro; para aqueles que dizem não ao apartheid e para o muro que está separando a ocupação Palestina — Israel; para aqueles que dizem não ao racismo e a misoginia na Colômbia; para aqueles que dizem não ao sistema de castas na Índia; e nós estamos em solidariedade com as mulheres dalit e suas comunidades; para aquelas que dizem não à violência cotidiana, à violência doméstica eà violência íntima, que incidem sobre as mulheres negras e que geralmente são perpetuadas por homens negros.
Assim como, finalmente tem sido reconhecido as mulheres negras pelo trabalho que sempre desenvolveram em manter as chamas de liberdade ardentes, a liderança das mulheres negras nos movimentos antirracistas tem finalmente sido reconhecida, não é o tipo de liderança que tenta dar visibilidade ou poder a indivíduos, não é o tipo de liderança que é baseado em carisma, o individualismo masculino carismático, mas é o tipo de liderança que enfatiza as intervenções coletivas e apoia as comunidades que estão em luta.

"A liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva"
 
A liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, reconhecemos a importância de confrontar a violência do Estado. Enquanto o racismo está saturando todas as nossas instituições, a questão da moradia, do emprego, da assistência de saúde e acesso à educação e, que pode ser mais dramaticamente, de policiamento e punição.
Mulheres negras têm propiciado liderança contra a violência estatal, contra a violência policial, contra o racismo no sistema carcerário, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Eu tenho falado aqui sobre a liderança das mulheres negras, mas eu deveria estar me referindo a liderança feminista negra; enquanto é necessário enfatizar a categoria de mulheres negras, pela perspectiva de gênero e de raça, nós reconhecemos que também estamos estão aplicados nisso: classe, sexualidade, capacidade e o gênero para além do convencional binário e que nosso foco é nas mulheres negras empobrecidas, incluindo as mulheres negras que estão encarceradas, incluindo mulheres negras gays, incluindo mulheres negras trans, incluindo mulheres negras portadoras de deficiência.
Mas também estamos conscientes de que não estamos focando na mulher negra através de um arcabouço separatista, porque as mulheres negras também estão se engajando nos movimentos de outros grupos; as vezes ao ponto de elas mesmas serem ignoradas nesse movimento.
As mulheres negras estão entre o grupo mais ignorados, subjugados e também os mais atacados no planeta. As mulheres negras estão entre os grupos mais não-libertos do mundo, mas ao mesmo tempo as mulheres negras têm uma trajetória que perpassa barreiras geográficas e da nação de sempre manter a esperança da liberdade viva.

As mulheres negras representam tanto a falta de liberdade e, ao mesmo tempo, as mesmas consistentes nessa tradição de que foi rompida pela luta à liberdade, desde o tempo da colonização, da escravidão e até o presente.
Lembramo-nos de Rosa Parks que sempre enfatizou que ela gostaria de ser relembrada como mulher que queria ser livre, de tal forma que todas as pessoas pudessem ser livres. Lembre-nos de Lilian Ngoyi, uma das mulheres que foram líderes do Movimento Anti-Passe, na África do Sul, que disse em 1956, entre todas as suas outras irmãs “agora que vocês atingiram as mulheres, você acionou um trator e você será esmagado!”. Carolina Maria de Jesus nos lembrou que a fome deveria nos levar a refletir sobre as crianças e sobre o futuro. E muito tempo antes do conceito de interseccionalidade ter sido utilizado, Lélia González não apenas insistia que não só deveríamos compreender que a completa inter-relação de raça, classe e gênero; mas insistia também que deveríamos ter em mente as nossas conexões, os nossos elos com a comunidade indígena; as conexões com os povos indígenas e os povos negros. E essa é uma das lições que nós dos Estados Unidos precisamos aprender com a história do feminismo negro no Brasil.

O que me leva a minha próxima questão: Existem geralmente a pressuposição que a forma mais avançada de feminismo negro será encontrada nos Estados Unidos. É verdade que há muitas figuras bastantes conhecidas norte-americanas que são associadas ao desenvolvimento do feminismo negro. Mas deveria ser reconhecido que isso não se dá pelo fato de sermos mais avançados; isso seria uma pressuposição imperialista e colonial. Mas na verdade, isso ocorre porque as ideias de lá, sejam elas conservadoras ou radicais, viajam e circulam com muita mais facilidade do que as ideias que emergem e emanam, por exemplo, daqui do Brasil. Então, eu não posso me levar tão a sério assim.
No que diz respeito a mim, eu sempre gosto de apontar que ninguém jamais teria reconhecido meu nome, se as pessoas de todo o mundo não tivessem se organizado e se juntaram a luta, exigindo a minha liberdade no início dos anos 1970. É verdade que cada uma dessas viagens que fiz ao Brasil tem me trazido muitos insights, muitas perspectivas novas.

Desde a primeira conferência organizada por Leila Gonzáles em 1997 no Maranhão, até a escola do feminismo negro descolonial que participei agora recentemente em Cachoeira. E portanto, a partir disso, passo a questionar o meu papel em trazer o conhecimento feminista negro para o Brasil. Passei a perceber que nós nos Estados Unidos somos aquelas que necessitamos aprender com o conhecimento e os insights que são produzidos pela longa história de luta feminista negra no brasil. Nós precisamos conhecer sobre o poder Feminista Negro preservado dentro da tradição do Candomblé. Nós precisamos aprender sobre os movimentos bem sucedidos organizados por mulheres negras trabalhadoras domésticas aqui na Bahia e no Brasil.

Eu tive o privilégio de conhecer Marinalva Barbosa que é a presidente do Movimento do Sindicato de trabalhadoras domésticas aqui na Bahia, temos muito a aprender com o trabalho dessas mulheres porque nós ainda não conseguimos nos organizar de maneira bem sucedida através de sindicatos dessa categoria nos Estados Unidos.

Apesar do fato de que mulheres negras que trabalhavam como lavadores e fizeram uma greve em 1988 em Atlanta na Geórgia, mesmo apesar do fato de que nos anos 1920 e nos anos 1950 houveram esforços que não foram bem sucedidos de organizar sindicatos dessa categoria. Não é uma coincidência que Alicia Garza, uma das fundadoras do movimento Black Lives Matter, mesmo assim ainda não temos um sindicato de trabalhadoras domesticas.
Deixe-me compartilhar com vocês algumas palavras sobre o complexo industrial prisional; está correto afirmar que o Brasil tem a quarta população carcerária do mundo. A quarta, sendo a primeira EUA, Rússia e China. Agora, os EUA estão comportando 1/4 de toda a população carcerária do mundo.

E se olhamos para a população carcerária feminina, 1/3 dessa população está sendo encarcerada nos EUA. Se tivéssemos tempo, essa noite poderíamos falar mais aprofundadamente sobre o fato de que de essa população carcerária reflete o tipo de sistema capitalista global e como esse sistema negligencia as necessidades humanas.

Populações que não tem acesso à educação, a moradia ou ao sistema de saúde ou a quaisquer outros serviços que são necessários a vida humana. A rede carcerária mundial representa um vasto depósito de lixo, nos quais pessoas que não tem importância são depositadas, descartadas. As pessoas que tem a menor importância são as pessoas negras, sul-americanos, muçulmanos, pessoas de descendência indígena. Quando nós trabalhamos e lutamos contra violência do Estado e como ela se manifesta através das práticas policiais e das práticas de encarceramento, nós dizemos que as pessoas negras importam, que as pessoas de descendência indígena importam.

A professora Denise Carrascosa, que é professora aqui na Universidade Federal da Bahia, que tem liderado um projeto de mulheres dentro do sistema carcerário, um projeto teatral dentro do sistema carcerário, chamado corpos indóceis e mentes livres, é um projeto entusiasmante que reúne mulheres encarceradas de tal forma que elas possam dramatizar suas realidades e suas vidas., esses são os tipos de projetos inovadores que produzem conhecimentos feministas sobre a relação entre a liberdade e a não-liberdade.

E eu acabei de ser informada que a professora Carrascosa tem sido impedida de entrar nesse Complexo Prisional Feminino na Bahia porque ela se juntou a outras encarceradas em protesto contra o tratamento punitivo de uma mulher que foi trancada e a ela foi negada medicação necessária pós cirúrgicos. E em função da professora Carrascosa ter levantado sua voz, o seu projeto que já dura 7 anos foi barrado.

Então, eu gostaria de perguntar a vocês o que vocês farão em relação a essa situação? Eu gostaria de sugerir que vocês começassem a pedir a cada uma das pessoas que estão presentes aqui nesse auditório para assinar um abaixo-assinado exigindo que esse projeto seja reincorporado. Sabemos que nos últimos dez anos houve um aumento de 500% na taxa de encarceramento de mulheres e 2/3 de todas as mulheres que estão encarceradas no Brasil são mulheres negras.
Então, isso me leva aos meus dois últimos pontos em conclusão.
Um deles diz respeito a reprodução da violência, nós não podemos excluir a violência doméstica, a violência no âmbito íntimo e a violência intima das nossas teorias sobre violência estatal e a violência institucional.

Frequentemente agimos como se um não tivesse nada a ver com o outro e que se as mulheres negras são vítimas dessa violência cotidiana que é infligida por seus maridos e seus namorados, isso significa simplesmente que os homens negros e os rapazes negros são violentos.
Mas como é que podemos pensar isso? Nós precisamos nos perguntar qual é a fonte dessa violência que prejudica e que fere tantas mulheres negras? Qual a relação dessa violência com a violência policial e a violência do sistema carcerário? Se essa violência do âmbito doméstico esta simbioticamente conectada com a violência institucional e a violência estatal?
Isso significa que nós não conseguiremos erradicar a violência doméstica simplesmente por enviar aqueles que perpetuam a violência doméstica para o sistema carcerário. Isso significa que se queremos, se desejamos erradicar as formas mais endêmicas de violência individual na face da terra, devemos também eliminar as fontes institucionais de violência.

Esse é um chamado pela abolição do encarceramento como forma dominante de punição. Este é um chamado para pensarmos novas formas de abordar aqueles que são feridos a violência. Esta é a chamada feminista negra para formas de justiças descoloniais que não sejam de retribuição vingativa.
Meu último ponto será breve e diz respeito aos esforços para conter a nossa resistência. Quando nós resistimos, instituições dominantes e principalmente o estado tentam nos conter, tentam conter a nossa resistência. Querem transformar as nossas lutas em estratégias para consolidação do estado nação.

O movimento de direitos civis agora é aclamado pelo Estado ou reivindicado pelo estado como central em suas narrativas sobre a democracia. Mas o movimento Black LIves Matter, principalmente na Era Trump é vivenciado ou narrado como um ataque.
No Brasil, agora que o mito na democracia racial foi completamente exposto, a pergunta agora diz respeito à se o movimento de resistência das mulheres negras pode ser assimilado, então dizemos que a medida que nos erguemos contra o racismo, nós não estamos reivindicando sermos inclusas numa sociedade racista.
Se dizemos não ao heteropatriarcado, então não estamos desejosas de sermos assimiladas em uma sociedade que é profundamente misógina e profundamente patriarcal. Se dizemos não a pobreza, nós não queremos ser contidas dentro de uma estrutura capitalista que valoriza muito mais o lucro do que os seres humanos.

E se reconhecemos que aqueles que queriam resolver o problema da escravidão através da criação de formas mais humanas de escravidão, nós estamos simplesmente utilizando a lógica do racismo.
Nós reconhecemos aqueles que estão simplesmente reivindicando a reforma do sistema policial e a reforma do sistema carcerário, reter se nessas estruturas racistas ao mesmo tempo em que estão fingindo abordar os problemas do racismo, é por isso que dizemos não ao feminismo carcerário e sim ao feminismo abolicionista.

É por isso que nós convocamos essa solidariedade para além de fronteiras nacionais e nós enfatizamos que o feminismo radical negro descolonial reconhece as nossas profundas conexões mesmo à medida que reconhecemos também as suas contradições.

Então, afirmamos que a luta para o acesso a água em comunidade quilombolas, no quilombo Rio dos Macacos, e essa comunidade está sendo assegurada de forma a colocar o rotulo de todos os membros dessa comunidade como terroristas, e eu tenho aqui em minhas mãos um apelo que vem da comunidade do Rio dos Macacos, em termo dos direitos humanos, do acesso à terra e a água. E eu vou ler essa carta aqui imediatamente, após o encerramento desse evento, eu lerei essa carta.
Mas o que eu gostaria de dizer sobre as lutas que estão ocorrendo dentro dessa comunidade, estão ligadas as reivindicações para a proteção da água em populações indígenas, por populações indígenas reivindicando proteção do veneno trazido pelos dutos de petróleo.

E vocês podem estar familiarizadas com a situação da reserva Standing Rocks em Sioux e essas lutas estão ligadas também aos esforços que ocorrem em Flent Michigan para expor o envenenamento da água nas comunidades negras e essa luta também está ligada à luta na qual as comunidades palestinas estão engajadas para defender seus reservatórios de água que são constantemente alvo das forças militares de Israel.

Então, somente através da solidariedade e da luta, nós poderemos preservar o nosso acesso a água. Eu gostaria de enfatizar a minha felicidade de estar aqui comemorando com vocês o dia dedicado a mulher afro-caribenha e latina porque as mulheres negras representam a possibilidade da esperança do futuro.

Carol Correia é Feminista, Ativista anti-prostituição, Formada em Direito (pós em Constitucional e Processo Penal) e Tradutora.