quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Zumbi dos Palmares: líder da luta e da resistência do povo negro.

Escrito por Nanci Vellose de Souza
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga


...e como sempre o líder foi perseguido. Aquele que apontou as injustiças, aquele que organizou o resgate dos cativos que estavam em sofrimento, aquele que “ousou” contrariar o sistema; um “podre poder” firmado com bases na opressão e na força.

É triste relembrar a escravidão, mas esse tema já gerou romances por conta do exagero de tantas dores e sofrimentos, se transformou em tema de inúmeros poemas e também em bandeiras de lutas e posteriormente foi celebrado pelas vitórias e conquistas.

Trazendo a escravidão que foi um fato passado na historicidade e contrapondo aos dias atuais, eu digo que Zumbi foi quem empoderou os cativos, pois foi ele que vislumbrou a possibilidade de fugir e de maneira organizada lutar para mudar aquela situação ultrajante na qual os negros escravizados viviam.

Quando fecho os olhos e me remeto ao passado, consigo 
imaginar a organização dos movimentos em prol da liberdade de negros cativos, a funcionabilidade dos quilombos e o maravilhoso sistema de ajuda mútua que foi organizado, onde arcando com todas as consequências, muitos se expunham e lutavam pela vida dos outros, arriscando a própria vida.

Zumbi foi o líder da resistência do povo negro e para homenageá-lo que foi escolhida a data de sua morte (20 de Novembro), para ser o dia da Consciência Negra; mas é preciso compreender que o nome “Consciência Negra” vai muito além de uma data comemorativa no calendário; representa atitude, movimento, organização, ações afirmativas constantes em benefício do povo negro e das suas causas.

Nos dias atuais temos vários Núcleos que podemos dizer que são representações vivas de Zumbi; pessoas que diariamente lutam, leem, escrevem e de alguma maneira representam a resistência contra a opressão dos racistas, pessoas que lutam com toda força, garra e disposição para empoderar os negros, tornando-os visíveis e inserindo-os socialmente de maneira igualitária.

De acordo com a diáspora africana todos nós negros somos “um pouco Zumbi” (por conta da ancestralidade), todos nós somos seguidores de Zumbi e compartilhamos do sonho de liberdade que “Ele” sonhou; temos o compromisso da resistência, da resiliência e da luta sem fim por igualdade.

Zumbi se foi, e seu legado de luta ficou, e representar a luta de Zumbi é responsabilidade de todos os negros. Salve Zumbi!


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Manifesto particular contra todo tipo de intolerância

por Nanci Vellose de Souza
contato:nancivelpsc@gmail.com
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga

Atualmente tenho lido muitas notícias, nas mais variadas mídias fazendo relatos sobre a intolerância, sobre cartazes expostos com manifestações de ódio, sobre intolerância religiosa, vetos a movimentos de livre expressão, escolas tendo seus projetos barrados por conta da temática discutida, a liberdade sendo vigiada num falso discurso democrático que ao mesmo tempo liberta e controla as ações populares, e todos esses fatos ao mesmo tempo que me indigna e amedronta. Será que vamos presenciar os horrores vividos na época da ditadura?

Depois de tantas discussões, lutas, resistência e ações buscando liberdade de expressão e igualdades de direitos a todos; retroceder seria muito triste.

O que mais me preocupa é a disseminação de ideias ruins, sendo propagadas abertamente e abrindo possibilidades para que outras pessoas que tenham incutidos em si o racismo, o preconceito e a intolerância se sintam fortalecidas a se juntar aos “tais grupos” e façam avivar em si aqueles antigos sentimentos de ódio que há muito tempo estavam adormecidos; e a situação realmente comece a se complicar.

Vivemos num mundo onde os nossos ideais não são os mesmos, nem tão pouco as nossas crenças, valores e escolhas, mas é preciso acreditar que as nossas diferenças não nos tornam inimigos, que a cor de nossa pele não nos faz inferiores ou superiores uns aos outros, que a opção sexual de um indivíduo não o diminui, que todos os grupos étnicos devem ser valorizados e suas histórias respeitadas. Somos todos iguais.

Os assuntos que nos séculos passados eram tabus, hoje são tratados abertamente, o que nos incomoda deve ser trazido a mesa para discussões, o vão que nos separa por divergentes opiniões não pode ser maior que os laços que nos unem enquanto cidadãos que vivem numa democracia e que por lei devem ter os seus direitos a livre expressão preservados e garantidos.

Não tenho lindas palavras para falar de algo que me desagrada, mas tenho claro em mim o sentimento de tristeza e medo de ver cada dia as fontes de notícias divulgando que a intolerância levou os homens ao caos, e me envergonho ao pensar que se tudo seguir nesse compasso, num futuro bem próximo todas as pessoas não mais se respeitarão, se atacarão, se ofenderão e não poderão se manifestar publicamente nem opinar sobre aquilo que acreditam.

Me esforço para acreditar que a Segurança Pública irá garantir os nossos direitos legais, de ir e vir, de nos expressarmos livremente e que irão nos salvaguardar de ataques de racismo, preconceito, ódio e todos os tipos de intolerância e espero que venham dias melhores ...




quarta-feira, 25 de outubro de 2017

MEUS CABELOS CRESPOS NÃO SÃO A MINHA ÚNICA IDENTIDADE NEGRA.

Escrito por Nanci Vellose de Souza
contato:nancivelpsc@gmail.com
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga                      

Mudar momentaneamente o formato original do seu cabelo afro, não quer dizer que você esteja negando a sua identidade negra, e sim que você está exercendo o seu direito de liberdade (tal qual os outros grupos étnicos o fazem); e ainda está se permitindo ser livre e se apresentar em público como quiser, ora lisa, ora crespa, mas da maneira que se sentir feliz naquele momento.
Entendo que o cabelo crespos seja um traço característicos dos negros, mas não é apenas o cabelo que me representa enquanto negra.

O lamentável equívoco está numa linha de pensamento radical que padroniza, “engessa” o negro e limita suas possibilidades de escolha, afirmando que o negro deve assumir o seu cabelo crespo sem outras possibilidades de escolha.

Durante um evento em Florianópolis-SC, tomei conhecimento do desagrado e desentendimento que o critério de verificação de negros e não negros, (para identificar quem terá direito às cotas ou não), está causando e pautada nessa discussão podemos nos apoiar e afirmar que a identidade de uma pessoa não é representada apenas  pelo formato  apresentado em seu cabelo afro ou não. 
Afinal, o que é identidade, como somos identificados enquanto negros? Vamos aos conceitos :


aquilo que diferencia cada um e nós e só nos iguala a nós mesmos    ,

mesmo que seja entendida num processo de transformação, é da ordem
da representação e está localizada na consciência... Ela diz respeito à
imagem como a pessoa se vê no plano subjetivo, como percebe o   que
lhe é próprio enquanto individualidade diferenciada”. (Gomes, 1995
p.42 e 43)

Continuo nos meus pensamentos e questiono: Se dentro do termo “negro” podemos encaixar vários tons de pele entre o preto retinto e o pardo com diferentes tons de pele, também podemos aceitar vários formatos de cabelos com diferentes ondulações e volumes, indo do crespo menos volumoso ao muito crespo.
Não será o volume dos cabelos a razão da perda de identidade de um indivíduo negro e sim como foi construída e entendida a sua identidade, como o indivíduo se aceita. A opção de estar com os cabelos quimicamente modificados ou diferentes do seu formato original crespo, não será o fator determinante para a perda de identidade de ninguém, pois um indivíduo pode se apresentar no cotidiano com os cabelos lindamente crespos e volumosos e ao ser abordado por um órgão de pesquisas e se declarar branco por não se aceitar negro, nem mesmo sabendo qual o seu histórico familiar...

Por fim, vale a reflexão e o alerta que fica para as linhas radicais de pensamento, que  não padronize os negros e negras, que permitam que as pessoas  sejam livres e que vivam de acordo com suas escolhas, ninguém é obrigado a se apresentar como não deseja apenas por conta de um padrão socialmente traçado  ou para não desagradar o discurso daquela pessoa que  tanto admira....deixe que a mulher negra seja feliz do jeito que ela quer ser...mulher é como camaleão, cada dia está de um jeito de acordo com seu estado de espírito...vivam e deixem os outros viver usufruindo do  seu direito de se expressar como quiser. Uma gosta liso, outra crespo, outra trançado, outra solto, outra com “mega-hair”, outra passa a  chapinha, mas todas são negras e se reconhecem como pertencentes a esse grupo.

O importante ao meu ver é que a pessoa se entenda enquanto negra, que aceite sua origem, que valorize a sua história e compreenda a diáspora e seja feliz. Não podemos admitir que uma pessoa deixe de frequentar um ambiente por que seu cabelo está quimicamente tratado e será constrangida por outros em virtude de sua escolha.

Não concordo e nem aceito nenhuma linha radical de pensamento que padroniza pessoas em série, que limita possibilidades e que distorce conceitos. A história do povo negro já vem por si só carregada de marcas e dores que não cessam, e espero que não seja agora a padronização de um formato de cabelo que venha fazer mulheres infelizes por não poderem fazer valer o seu direito de liberdade de escolha.

Referências Bibliográficas:
GOMES, Nilma L. A mulher negra que vi de perto. Belo Horizonte: Maza edições, 1995.

A importância de professores negros como referência para educandos negros , e a necessidade de mesclar a sala dos professores entre pretos e brancos.

Escrito por
Nanci Vellose de Souza 

contato: nancivelpsc@gmail.com                     
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga


O objetivo desse relato de experiência é ressaltar a importância da referência de professores negros para educandos negros, tanto na primeira infância, quanto em quaisquer outros estágios de desenvolvimento e formação.
Nessa jornada na carreira do magistério percebo que a sala os professores poderia ter um tom mais mesclado entre "pretos e brancos", ou seja, vejo uma disparidade entre o número de professores negros e brancos no recinto escolar.
Historicamente esta disparidade quantitativa poderia ser justificada por conta de um período quando foi negado aos negros o direito de acesso às escolas, mas muito embora esse fato histórico tenha ocorrido há tanto tempo, ainda não houve uma retomada total dos espaços para que a representação dos negros no cenário social seja igualada à ocupação dos demais grupos étnicos.
O que mais me preocupa nessa análise é que existem espaços a serem ocupados, mas também existe o recuo por um grande grupo de negros que não se sentem representados por serem minoria.
Conversando com uma colega, também professora e negra como eu, percebi nela um "nó na garganta", um “grito guardado", certa indignação ao perceber a pequena representatividade de negros no âmbito escolar; que o número de professores negros no espaço escolar equivale a menos de 1% do total de aproximadamente 90 professores.
Essa observação incomodou minha colega, mas não me apavora nem intimida, serve como alerta, pois entendo que se quisermos espaços igualitários, como a lei nos permite ter, temos que tomar posse dos espaços que queremos para nós e; se recuarmos sempre, cada hora com uma alegação diferente, não estaremos sendo merecedores de todo o sacrifício que nossos antepassados fizeram em busca de liberdade e igualdade de direitos, e sigo nessa reflexão...
Quanto aos educandos dos anos iniciais (cito 1º ano, seis anos de idade); percebo que os alunos negros se identificam mais do que os outros com os professores negros, se aproximam de maneira diferente, mais afetivos, buscando acolhimento próximo a "um igual" a si. Isso ocorreu comigo principalmente no primeiro trimestre do ano corrente, quando as crianças estavam recém chegadas das creches e núcleos de educação infantil, onde o contato e o acolhimento são diferenciados, principalmente por ser esse um dos primeiros núcleos sociais dos quais estas crianças pertencem depois de seus núcleos familiares.
Poderíamos analisar nesse momento alguns aspectos estatísticos e efetivar esse relato com bases numéricas atuais, mas os números apenas iriam confirmar o que já sabemos, que há defasagem de negros no magistério, nas universidades, no cenário nas artes, e em tantos outros espaços....
Com esse relato eu busco colocar em discussão duas reflexões básicas:
- É preciso motivar os negros a assumirem os espaços que estão à sua espera, fazer com que estejam presentes em todos os espaços, se tornem visíveis aos olhos de todos e usufruam dos benefícios conquistados, através de muita luta.
- Alertar sobre a necessidade de se apropriarem de sua identidade negra, de reparar as perdas históricas, de se libertar das antigas amarras e se valorizar enquanto pessoa e enquanto grupo social de grande representatividade para a história do Brasil.

Apenas quando os negros entenderem o peso e o valor da cultura negra (africana e afro-brasileira) para a História, poderemos então ver todos os espaços sociais e não apenas as sala dos professores, mesclados igualmente entre "pretos e brancos", e cabe a cada um de nós negros lutar para equiparar os números e realmente igualar a ocupação dos espaços sociais por todos os grupos étnicos.
Ainda hoje tenho grandes mestres e doutores negros que me inspiram a seguir adiante e que me servem como referência e sou grata a todos os que lutam pelas causas dos negros e pela educação.

A IDENTIDADE DA CRIANÇA NEGRA, A FAMÍLIA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS NA ESCOLA.


Escrito por Nanci Vellose de Souza
contato : nancivelpsc@gmail.com
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga
Para abrirmos o tema identidade da criança negra e ações afirmativas na escola, temos que iniciar o assunto voltando para o começo da história de vida de uma criança negra para entendermos alguns pontos importantes; como a criança negra está sendo criada; qual o entendimento sobre quem ela é, sobre sua cor, seus cabelos, suas origens, sobre como ela se vê em relação aos outros, sobre o fator autoestima, que irá determinar se esta criança irá gostar de si e se aceitar, perceber a partir de observações individuais e grupais se esta criança gosta de si com as suas características, e principalmente sondar essa criança para saber o que incutiram em sua cabeça durante o processo de desenvolvimento.
De acordo com o meu entendimento o processo de formação da identidade da criança deverá ser iniciado em casa, antes da chegada da criança ao núcleo de educação infantil e o meio onde essa criança está inserida também será fator determinante para a formação de sua identidade, pois alguns equívocos vistos e ouvidos, poderão lamentavelmente serem repetidos e a criança tende a internalizar o que ouve e vê e reproduzir em seguida.
Muito embora algumas famílias achem que não estão preparadas para tratar sobre o tema identidade, penso que em casa as famílias devam responder de maneira simplificada a todas as perguntas feitas pelas crianças, promover as interações sociais de seus filhos com outros grupos étnicos, fazer com que a caixa de brinquedos seja mesclada com bonecos brancos e negros, que as histórias infantis tragam nos livros os príncipes e as princesas negras juntos aos demais livros e que o convívio com diferentes grupos raciais seja o mais natural possível; esse é segundo o meu olhar o caminho inicial para se dissipar o preconceito.
O ideal seria que quando uma criança, seja ela negra ou branca, chegue ao núcleo de educação infantil ou nos anos iniciais de sua escolarização, já tenha tomado conhecimento que existem diferenças entre as pessoas, que existem vários tons de pele, vários tipos de cabelo, aparências diferentes umas das outras, e que todos deverão conviver no mesmo espaço e se respeitar.
Nos núcleos de educação infantil, ou nos anos iniciais da escolarização, as práticas pedagógicas trarão intencionalmente propostas que levarão as crianças a se observar e a observar o outro e assim surgirão as primeiras problematizações e as posteriores explicações.
Os professores deverão estar preparados para os mais variados questionamentos e ter vasto referencial de leituras para permitir clareza em suas respostas e quando surgirem as questões de preconceito no espaço escolar deverão ser agentes mediadores do problema e se manter imparcial.
Na espaço escolar as ações afirmativas irão se concretizar pelas mãos dos professores, que terão a incumbência de fazer com que todos os grupos se sintam representados no contexto trabalhado, pois quando um indivíduo não se sente representado, ele não se interessa pelo tema, e o nível de interesse e participação baixam muito.
A questão das ações afirmativas, não é muito complicada, a complicação surge a partir do não entendimento. A maneira mais simplificada de entender as ações afirmativas, poderíamos dizer que são aquelas ações pensadas para diminuir ou minimizar as desigualdades, que incluirão pessoas que foram excluídas, seja por fatores econômicos, sociais, raciais entre elas e as ações essas que irão reforçar positivamente o indivíduo, afim de que esse se torne agente de sua história de vida, criando oportunidade de visibilidade e inserção social, a partir de ações motivadoras.
O principal foco da ação afirmativa é fazer com que todos os grupos se vejam representados e possam competir igualmente, ter as mesmas oportunidades sociais e se sentir parte do contexto.
Falar sobre ações afirmativas na escola, quer dizer que temos que abrir discussões sobre esse tema, que é preciso debater, rever o currículo escolar, ir em busca da valorização da identidade negra, fazer com que o negro se orgulhe de ser quem é , de buscar orientação e formação para os professores afim de que os equívocos cometidos nos materiais didáticos e na historicidade da África e dos africanos não sejam repetidos e para que todos os grupos sejam vistos e representados no cotidiano escolar.
Para conseguirmos diminuir registros de casos de bullyng, expressões visíveis de racismo e   preconceito, xenofobia, homofobia, temos que falar sobre o assunto da igualdade racial, sobre os direitos legais adquiridos nos últimos anos e que nos garante o direito de estar em todos os lugares, de sermos tratados igualmente, de vestir o que quisermos, de ter os cabelos volumosos e crespos, enfim, de ser quem somos e como somos, de sermos autênticos...
Valorizar a cultura africana, o processo de aculturação que esse convívio nos proporcionou é a única receita para seguirmos em busca de outras políticas de ações afirmativas. Não podemos mais não mencionar determinados assuntos, temos que falar sobre o que nos incomoda e apenas assim criar possibilidades de resolver os problemas que a sociedade nos apresenta cotidianamente.
 Fpolis,07/17

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Palestra completa de Angela Davisna UFBA em Julho das Pretas

Com tradução de Raquel Souza e transcrição feitas pelas ativistas Carol Correia e Monyque Assis, leia a  palestra “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo” de Angela Davis, no Julho das Pretas, em 25 de julho de 2017, no salão nobre da reitoria de UFBA, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres Afrolatinas e Caribenhas

 

Introdução da palestrante [palavras da própria gravação]

Angela Davis é filósofa, ativista feminista e defensora dos direitos civis da população negra. Fez parte do Panteras Negras e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Em 1970, foi perseguida e presa. Ativistas tomaram as ruas exigindo: “Libertem Angela Davis!”. Publicou em 1981 uma de suas mais importantes obras: “Mulheres, Raça e Classe”. O livro transmite sua militância em defesa das políticas de igualdade de gênero e combate ao racismo. Considera que raça, classe e gênero estão entrelaçados e que juntos podem criar diferentes tipos de opressão.

Palestra em homenagem ao dia 25 de julho, Dia da Mulher Afro-Latina e Caribenha.

Boa noite. Eu não consigo dizer a vocês quão emocionada eu estou em estar na presença de vocês essa noite. Isso certamente é como deveria ser a aparência de uma Universidade. Eu gostaria de agradecer Ângela Figueiredo, a Odara, ao Centro de Estudos de Gênero da UFBA, por me convidar para vir aqui e homenagear o dia 25 de julho. Essa é minha quarta visita a Bahia e a minha sexta visita ao Brasil e nesse momento eu me sinto extremamente envergonhada por ainda não ter aprendido português. Então esse será meu próximo projeto!

Eu estou muito feliz de estar aqui celebrando o Dia de Mulheres Afro-Latinas e Caribenhas e eu sei que aqui esse dia é conhecido como Julho das Pretas. Então eu estou muitíssimo entusiasmada de estar aqui no Brasil, especialmente porque eu tenho acompanhado recentes situações dentro do Movimento de Mulheres Negras e me parece que, nesse momento contemporâneo, as mulheres negras brasileiras representam o futuro do Movimento.

Mulheres negras no Brasil têm uma história bastante longa em envolvimento em lutas em prol da liberdade. Como tem sido simbolizada pela continuidade da Irmandade da Boa Morte. O conceito de Boa Morte em si nos faz imaginar um futuro melhor. Isso me leva a reconhecer as amplas contribuições das mulheres negras no Brasil e na Bahia em termos da cultura religiosa desse local. Durante essa visita eu fui honrada com a possibilidade de atender uma oficina dentro da Irmandade da Boa Morte.

E, também, em de passar tempo com Dona Dalva com quem tive a oportunidade de aprender sobre o papel de Dona Dalva em preservar o samba de roda e ela recebeu um diploma de doutorado honoris causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Eu gostaria de ressaltar que alguns anos atrás fui honrada pelo convite de conhecer o terreiro e de me encontrar com Mãe Estela. E elas me disseram sobre seus esforços de preservar a cultura e a religiosidade dentro das tradições baianas e que as mulheres negras estavam no cerne dessas tradições.
Como foi dito por Dulce Pereira, eu já venho ao Brasil desde 1997 e eu nunca irei me esquecer daquele encontro que ocorreu em 1997 em São Luís no Maranhão. Tive a oportunidade de encontrar Luísa Barros pela primeira vez e o espírito delacontinua a viver e a estar aqui presente conosco.

E também encontrei pela primeira vez, Vilma Reis e tantas outras mulheres negras maravilhosas, em qual eu continuo a me encontrar todas as vezes em que venho ao Brasil.
A atual visita organizada pela Professora Doutora Ângela Figueiredo foi um encontro organizado em conexão a uma reunião mais ampla, a um curso organizado em Cachoeira sobre Feminismo Negro Decolonial. E eu agradeço a Ângela, em que toda vez que alguém chama seu nome [de Ângela Figueiredo], eu também olho, mas eu agradeço a ela por ter me convidado de novo e de novo para vir a Bahia. As pessoas me perguntam “você já foi ao Rio de Janeiro”, eu digo “não”; “você já foi a São Paulo?”, eu digo “não, mas eu já fui a Salvador, Bahia, várias e várias vezes”.

Eu menciono essa escolha porque ela reuniu estudantes negras do Brasil, da América do Sul, da África do Sul, do Canadá, dos Estados Unidos e do Porto Rico e, ao fazê-lo, produzir concepções importantes que poderiam não ter sido disponibilizadas, se esse encontro não fosse corrido. Todos nós que tivemos a oportunidade de virmos de outras partes do mundo, temos muita sorte de estarmos aqui nesse momento, onde o ativismo de mulheres negras está elevado; a gente está pela gente.

E como já foi dito e reiterado várias vezes, o movimento social liderado por mulheres negras é o movimento social mais importante do Brasil.
Após o Golpe antidemocrático que resultou na retirada de Dilma Rousseff, após a ocorrência desse golpe de Estado, as mulheres negras criaram a melhor esperança para esse país. Muitas de nós nos Estados Unidos estávamos muito entusiasmadas acompanhando a Marcha das Mulheres Negras no Brasil em novembro de 2015 e nós continuamos a sentir as reverberações dessa marcha e  estamos no Julho das Pretas.
Este é um momento difícil para o nosso planeta por vários motivos, principalmente em função de termos uma guinada para a Direita na Europa, nos Estados Unidos, na América do Sul, especialmente aqui no Brasil.

Eu não tenho nem como explicar para vocês qual é a sensação de morar nos Estados Unidos, no qual Donald Trump é o presidente, mas não devemos nos esquecer que um dia após a posse dele, o Movimento de Mulheres trouxe para Washington três vezes mais pessoas do que o número que atendeu a cerimônia de posse de Donald Trump. Estima-se que mais de 5 milhões de pessoas participaram na Marcha das Mulheres contra Trump por todo o mundo, até na Antártica.

A Marcha das Mulheres em Washington foi liderada por mulheres negras, latinas, asiáticas, indígenas, muçulmanas e também mulheres brancas. Nós nos encontramos em Washington e por todo o mundo de todos os países para dizer que: "Nós resistiremos, nós resistiremos! Todos os dias da presidência de Donald Trump, nós resistiremos! Nós resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado. Nós resistiremos a islamofobia e ao preconceito contra pessoas portadoras de deficiências físicas e nós defenderemos o meio ambiente dos ataques insistentes e predatórios do capital."

Aqui em Salvador, no dia 25 de julho, o dia dedicado às mulheres negras na América Latina e no Caribe, dizemos de forma ainda mais forte, com a força e o poder das mulheres negras nessa região: Nós resistiremos! Nós sabemos que as transformações históricas sempre começam com as pessoas, essa é a mensagem do Movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matter), quando as vidas negras começarem a realmente ter importância, isso significará que todas as vidas têm importância. E podemos dizer também, especificamente, que quando as vidas das mulheres negras importam, então o mundo será transformado e nós teremos a certeza, então, que todas as vidas importarão. As lutas das mulheres negras estão conectadas às lutas de pessoas oprimidas em todas as partes.
Para aqueles que dizem não às políticas anti-imigração de Donald Trump e a construção de seu muro; para aqueles que dizem não ao apartheid e para o muro que está separando a ocupação Palestina — Israel; para aqueles que dizem não ao racismo e a misoginia na Colômbia; para aqueles que dizem não ao sistema de castas na Índia; e nós estamos em solidariedade com as mulheres dalit e suas comunidades; para aquelas que dizem não à violência cotidiana, à violência doméstica eà violência íntima, que incidem sobre as mulheres negras e que geralmente são perpetuadas por homens negros.
Assim como, finalmente tem sido reconhecido as mulheres negras pelo trabalho que sempre desenvolveram em manter as chamas de liberdade ardentes, a liderança das mulheres negras nos movimentos antirracistas tem finalmente sido reconhecida, não é o tipo de liderança que tenta dar visibilidade ou poder a indivíduos, não é o tipo de liderança que é baseado em carisma, o individualismo masculino carismático, mas é o tipo de liderança que enfatiza as intervenções coletivas e apoia as comunidades que estão em luta.

"A liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva"
 
A liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, reconhecemos a importância de confrontar a violência do Estado. Enquanto o racismo está saturando todas as nossas instituições, a questão da moradia, do emprego, da assistência de saúde e acesso à educação e, que pode ser mais dramaticamente, de policiamento e punição.
Mulheres negras têm propiciado liderança contra a violência estatal, contra a violência policial, contra o racismo no sistema carcerário, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Eu tenho falado aqui sobre a liderança das mulheres negras, mas eu deveria estar me referindo a liderança feminista negra; enquanto é necessário enfatizar a categoria de mulheres negras, pela perspectiva de gênero e de raça, nós reconhecemos que também estamos estão aplicados nisso: classe, sexualidade, capacidade e o gênero para além do convencional binário e que nosso foco é nas mulheres negras empobrecidas, incluindo as mulheres negras que estão encarceradas, incluindo mulheres negras gays, incluindo mulheres negras trans, incluindo mulheres negras portadoras de deficiência.
Mas também estamos conscientes de que não estamos focando na mulher negra através de um arcabouço separatista, porque as mulheres negras também estão se engajando nos movimentos de outros grupos; as vezes ao ponto de elas mesmas serem ignoradas nesse movimento.
As mulheres negras estão entre o grupo mais ignorados, subjugados e também os mais atacados no planeta. As mulheres negras estão entre os grupos mais não-libertos do mundo, mas ao mesmo tempo as mulheres negras têm uma trajetória que perpassa barreiras geográficas e da nação de sempre manter a esperança da liberdade viva.

As mulheres negras representam tanto a falta de liberdade e, ao mesmo tempo, as mesmas consistentes nessa tradição de que foi rompida pela luta à liberdade, desde o tempo da colonização, da escravidão e até o presente.
Lembramo-nos de Rosa Parks que sempre enfatizou que ela gostaria de ser relembrada como mulher que queria ser livre, de tal forma que todas as pessoas pudessem ser livres. Lembre-nos de Lilian Ngoyi, uma das mulheres que foram líderes do Movimento Anti-Passe, na África do Sul, que disse em 1956, entre todas as suas outras irmãs “agora que vocês atingiram as mulheres, você acionou um trator e você será esmagado!”. Carolina Maria de Jesus nos lembrou que a fome deveria nos levar a refletir sobre as crianças e sobre o futuro. E muito tempo antes do conceito de interseccionalidade ter sido utilizado, Lélia González não apenas insistia que não só deveríamos compreender que a completa inter-relação de raça, classe e gênero; mas insistia também que deveríamos ter em mente as nossas conexões, os nossos elos com a comunidade indígena; as conexões com os povos indígenas e os povos negros. E essa é uma das lições que nós dos Estados Unidos precisamos aprender com a história do feminismo negro no Brasil.

O que me leva a minha próxima questão: Existem geralmente a pressuposição que a forma mais avançada de feminismo negro será encontrada nos Estados Unidos. É verdade que há muitas figuras bastantes conhecidas norte-americanas que são associadas ao desenvolvimento do feminismo negro. Mas deveria ser reconhecido que isso não se dá pelo fato de sermos mais avançados; isso seria uma pressuposição imperialista e colonial. Mas na verdade, isso ocorre porque as ideias de lá, sejam elas conservadoras ou radicais, viajam e circulam com muita mais facilidade do que as ideias que emergem e emanam, por exemplo, daqui do Brasil. Então, eu não posso me levar tão a sério assim.
No que diz respeito a mim, eu sempre gosto de apontar que ninguém jamais teria reconhecido meu nome, se as pessoas de todo o mundo não tivessem se organizado e se juntaram a luta, exigindo a minha liberdade no início dos anos 1970. É verdade que cada uma dessas viagens que fiz ao Brasil tem me trazido muitos insights, muitas perspectivas novas.

Desde a primeira conferência organizada por Leila Gonzáles em 1997 no Maranhão, até a escola do feminismo negro descolonial que participei agora recentemente em Cachoeira. E portanto, a partir disso, passo a questionar o meu papel em trazer o conhecimento feminista negro para o Brasil. Passei a perceber que nós nos Estados Unidos somos aquelas que necessitamos aprender com o conhecimento e os insights que são produzidos pela longa história de luta feminista negra no brasil. Nós precisamos conhecer sobre o poder Feminista Negro preservado dentro da tradição do Candomblé. Nós precisamos aprender sobre os movimentos bem sucedidos organizados por mulheres negras trabalhadoras domésticas aqui na Bahia e no Brasil.

Eu tive o privilégio de conhecer Marinalva Barbosa que é a presidente do Movimento do Sindicato de trabalhadoras domésticas aqui na Bahia, temos muito a aprender com o trabalho dessas mulheres porque nós ainda não conseguimos nos organizar de maneira bem sucedida através de sindicatos dessa categoria nos Estados Unidos.

Apesar do fato de que mulheres negras que trabalhavam como lavadores e fizeram uma greve em 1988 em Atlanta na Geórgia, mesmo apesar do fato de que nos anos 1920 e nos anos 1950 houveram esforços que não foram bem sucedidos de organizar sindicatos dessa categoria. Não é uma coincidência que Alicia Garza, uma das fundadoras do movimento Black Lives Matter, mesmo assim ainda não temos um sindicato de trabalhadoras domesticas.
Deixe-me compartilhar com vocês algumas palavras sobre o complexo industrial prisional; está correto afirmar que o Brasil tem a quarta população carcerária do mundo. A quarta, sendo a primeira EUA, Rússia e China. Agora, os EUA estão comportando 1/4 de toda a população carcerária do mundo.

E se olhamos para a população carcerária feminina, 1/3 dessa população está sendo encarcerada nos EUA. Se tivéssemos tempo, essa noite poderíamos falar mais aprofundadamente sobre o fato de que de essa população carcerária reflete o tipo de sistema capitalista global e como esse sistema negligencia as necessidades humanas.

Populações que não tem acesso à educação, a moradia ou ao sistema de saúde ou a quaisquer outros serviços que são necessários a vida humana. A rede carcerária mundial representa um vasto depósito de lixo, nos quais pessoas que não tem importância são depositadas, descartadas. As pessoas que tem a menor importância são as pessoas negras, sul-americanos, muçulmanos, pessoas de descendência indígena. Quando nós trabalhamos e lutamos contra violência do Estado e como ela se manifesta através das práticas policiais e das práticas de encarceramento, nós dizemos que as pessoas negras importam, que as pessoas de descendência indígena importam.

A professora Denise Carrascosa, que é professora aqui na Universidade Federal da Bahia, que tem liderado um projeto de mulheres dentro do sistema carcerário, um projeto teatral dentro do sistema carcerário, chamado corpos indóceis e mentes livres, é um projeto entusiasmante que reúne mulheres encarceradas de tal forma que elas possam dramatizar suas realidades e suas vidas., esses são os tipos de projetos inovadores que produzem conhecimentos feministas sobre a relação entre a liberdade e a não-liberdade.

E eu acabei de ser informada que a professora Carrascosa tem sido impedida de entrar nesse Complexo Prisional Feminino na Bahia porque ela se juntou a outras encarceradas em protesto contra o tratamento punitivo de uma mulher que foi trancada e a ela foi negada medicação necessária pós cirúrgicos. E em função da professora Carrascosa ter levantado sua voz, o seu projeto que já dura 7 anos foi barrado.

Então, eu gostaria de perguntar a vocês o que vocês farão em relação a essa situação? Eu gostaria de sugerir que vocês começassem a pedir a cada uma das pessoas que estão presentes aqui nesse auditório para assinar um abaixo-assinado exigindo que esse projeto seja reincorporado. Sabemos que nos últimos dez anos houve um aumento de 500% na taxa de encarceramento de mulheres e 2/3 de todas as mulheres que estão encarceradas no Brasil são mulheres negras.
Então, isso me leva aos meus dois últimos pontos em conclusão.
Um deles diz respeito a reprodução da violência, nós não podemos excluir a violência doméstica, a violência no âmbito íntimo e a violência intima das nossas teorias sobre violência estatal e a violência institucional.

Frequentemente agimos como se um não tivesse nada a ver com o outro e que se as mulheres negras são vítimas dessa violência cotidiana que é infligida por seus maridos e seus namorados, isso significa simplesmente que os homens negros e os rapazes negros são violentos.
Mas como é que podemos pensar isso? Nós precisamos nos perguntar qual é a fonte dessa violência que prejudica e que fere tantas mulheres negras? Qual a relação dessa violência com a violência policial e a violência do sistema carcerário? Se essa violência do âmbito doméstico esta simbioticamente conectada com a violência institucional e a violência estatal?
Isso significa que nós não conseguiremos erradicar a violência doméstica simplesmente por enviar aqueles que perpetuam a violência doméstica para o sistema carcerário. Isso significa que se queremos, se desejamos erradicar as formas mais endêmicas de violência individual na face da terra, devemos também eliminar as fontes institucionais de violência.

Esse é um chamado pela abolição do encarceramento como forma dominante de punição. Este é um chamado para pensarmos novas formas de abordar aqueles que são feridos a violência. Esta é a chamada feminista negra para formas de justiças descoloniais que não sejam de retribuição vingativa.
Meu último ponto será breve e diz respeito aos esforços para conter a nossa resistência. Quando nós resistimos, instituições dominantes e principalmente o estado tentam nos conter, tentam conter a nossa resistência. Querem transformar as nossas lutas em estratégias para consolidação do estado nação.

O movimento de direitos civis agora é aclamado pelo Estado ou reivindicado pelo estado como central em suas narrativas sobre a democracia. Mas o movimento Black LIves Matter, principalmente na Era Trump é vivenciado ou narrado como um ataque.
No Brasil, agora que o mito na democracia racial foi completamente exposto, a pergunta agora diz respeito à se o movimento de resistência das mulheres negras pode ser assimilado, então dizemos que a medida que nos erguemos contra o racismo, nós não estamos reivindicando sermos inclusas numa sociedade racista.
Se dizemos não ao heteropatriarcado, então não estamos desejosas de sermos assimiladas em uma sociedade que é profundamente misógina e profundamente patriarcal. Se dizemos não a pobreza, nós não queremos ser contidas dentro de uma estrutura capitalista que valoriza muito mais o lucro do que os seres humanos.

E se reconhecemos que aqueles que queriam resolver o problema da escravidão através da criação de formas mais humanas de escravidão, nós estamos simplesmente utilizando a lógica do racismo.
Nós reconhecemos aqueles que estão simplesmente reivindicando a reforma do sistema policial e a reforma do sistema carcerário, reter se nessas estruturas racistas ao mesmo tempo em que estão fingindo abordar os problemas do racismo, é por isso que dizemos não ao feminismo carcerário e sim ao feminismo abolicionista.

É por isso que nós convocamos essa solidariedade para além de fronteiras nacionais e nós enfatizamos que o feminismo radical negro descolonial reconhece as nossas profundas conexões mesmo à medida que reconhecemos também as suas contradições.

Então, afirmamos que a luta para o acesso a água em comunidade quilombolas, no quilombo Rio dos Macacos, e essa comunidade está sendo assegurada de forma a colocar o rotulo de todos os membros dessa comunidade como terroristas, e eu tenho aqui em minhas mãos um apelo que vem da comunidade do Rio dos Macacos, em termo dos direitos humanos, do acesso à terra e a água. E eu vou ler essa carta aqui imediatamente, após o encerramento desse evento, eu lerei essa carta.
Mas o que eu gostaria de dizer sobre as lutas que estão ocorrendo dentro dessa comunidade, estão ligadas as reivindicações para a proteção da água em populações indígenas, por populações indígenas reivindicando proteção do veneno trazido pelos dutos de petróleo.

E vocês podem estar familiarizadas com a situação da reserva Standing Rocks em Sioux e essas lutas estão ligadas também aos esforços que ocorrem em Flent Michigan para expor o envenenamento da água nas comunidades negras e essa luta também está ligada à luta na qual as comunidades palestinas estão engajadas para defender seus reservatórios de água que são constantemente alvo das forças militares de Israel.

Então, somente através da solidariedade e da luta, nós poderemos preservar o nosso acesso a água. Eu gostaria de enfatizar a minha felicidade de estar aqui comemorando com vocês o dia dedicado a mulher afro-caribenha e latina porque as mulheres negras representam a possibilidade da esperança do futuro.

Carol Correia é Feminista, Ativista anti-prostituição, Formada em Direito (pós em Constitucional e Processo Penal) e Tradutora.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Você sabe o que são pessoas tóxicas? sabe como evitá-las?:

Se depois de estar com certas pessoas, você se sente sem energia e desgastado, a pessoa altera a voz para falar com voce, tenta manipular situações, lhe desrespeita e critica tudo o que voce faz; cuidado, ela pode ser uma pessoa tóxica.

 

Portal Angels

Pode ser que você esteja cercado de pessoas que constantemente criticam seu modo de agir, o sufoquem com suas carências e necessidades, critiquem seus pontos de vista , aproveitando qualquer oportunidade para atacar sua autoestima. Essas pessoas têm a mira apontada para a sua vulnerabilidade. Podem agir sutilmente, disfarçando suas estratégias de ataque. Ou, se colocam ostensivamente, agredindo o outro com palavras e atos.

Todos nós em alguma parte da nossa vida já fomos confrontados a nos relacionar, quer seja por vontade própria ou não, com pessoas tóxicas através do trabalho, das amizades, ou por vezes em termos emocionais e familiares. Os tóxicos podem ser muito simpáticos, muito sedutores até conquistarem a pessoa. Existe no fundo uma conquista, um namoro, uma sedução. A pessoa tóxica não está bem com ela própria, logo sutilmente ela/ele começa a minar a auto estima do outro, são sangue sugas de energias.

Elas podem estar doentes, extremamente preocupadas, ou mesmo sentindo a falta daquilo de que necessitam em termos de amor e apoio emocional. Pessoas tóxicas podem ser angustiadas, depressivas, ou mesmo mentalmente doentes, mas ainda precisam diferençar o problema real delas da maneira como se comportam em relação a você.
Uma coisa é certa um toxico é um invejoso, um doente que não fará falta nenhuma a sua vida.

A pessoa tóxica está sempre a desvalorizar o que você é, seja fisicamente, mentalmente profissionalmente, sempre a minar a sua energia com observações sútis muito desagradáveis. O tóxico tenta sempre chamar atenção sobre si, é inconveniente, dá opiniões sem ninguém pedir.

É manipulador, é instável e inseguro e tenta incutir a insegurança no outro. É uma forma de se sentir melhor com a sua própria infelicidade.
Os tóxicos são controladores, sabem sempre tudo sobre tudo e nunca dão a oportunidade de o outro manifestar a opinião.

Os tóxicos são sempre vítimas seja do chefe, da mãe ou da família que nunca o amaram, no fundo, o tóxico nunca tem culpa de nada.
Os tóxicos são destrutivos porque não respeitam os espaço dos outros, impondo à força, a sua presença.

Se você estiver tentado criar para si mesmo, uma boa maneira é começar a avaliar o comportamento das pessoas ao seu redor, e ter a certeza que não apresentam comportamentos tóxicos.

Comportamentos tóxicos considerados desagradáveis, que se propagem negativamente no meio ambiente provocando distúrbios sociais.
Em termos relacionais torna-se difícil a interação humana, o caos impera. Deve-se manter-se distante e retirar-se estrategicamente quando alguém apresentar comportamentos tóxicos de maneira consistente.

Como anular essas energias
Quando você se sentir extremamente sobrecarregado, encoste-se de costas à uma árvore e a abrace “por trás” e fique assim por alguns minutos, o suficiente para sentir-se melhor.
Ao contrário, quando você se sentir esgotado, cansado, exausto, triste, melancólico, deprimido, sem forças, abrace a árvore de frente, por alguns minutos, Sinta a energia amorosa e carinhosa, sinta-se fortalecido e energizado, com capacidade indefinível de amar e aceitar as coisas individualmente, sinta o poder do amor da Natureza e do seu próprio Amor a si mesmo.

Você também pode andar com os pés descalços e fortalecer seus laços com a Terra (na areia da praia, na grama de casa, do parque, na terra, qualquer lugar, desde que seja solo nu, sem piso ou qualquer outro revestimento artificial ou sintético.
Estabelecer e manter relacionamentos saudáveis é uma construção que demanda investimento de energia. Dar e receber é um dos princípios fundamentais das relações gratificantes.

Portanto, escolha suas companhias cuidadosamente. E lembre-se que os relacionamentos que mantém com outros, refletem o seu relacionamento com você.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

As quatro mulheres negras que prometem em 2017

A jornalista e cinéfila, Lúcia Lázaro escreveu um artigo da Revista Vertigem, na qual escolhe as 8 mulheres que prometem serem verdadeira revelação em 2017. Separamos as quatro mulheres negras escolhidas: Angélica Dass  , Sabrina Fidalgo , Djamila Ribeiro , Ava DuVernay. 
Acompanhem a escolha e classificação e façam seus comentários, meninas:

Passei o último ano acompanhando várias mulheres e coletivos femininos incríveis dentro e fora do Brasil, na área das artes e entretenimento, e decidi que este é o momento de reunir esses nomes e apresentá-los à Vertigem. Após uma difícil escolha, no melhor estilo “A Escolha de Sofia” (filme dramalhão icônico de 1982, que deu o primeiro Oscar de melhor atriz à espetacular Meryl Streep), resolvi que estas são as oito mulheres que vão dar muito o que falar ao longo de 2017. Para cada uma delas, tracei um perfil que servirá de introdução às mentes brilhantes das mulheres que compõem este grupo totalmente heterogêneo, formando um mosaico de idades, raças, profissões e experiências. Algumas já são famosas, outras nem tanto. Em comum, todas reúnem talento, criatividade, perseverança, inteligência e muita garra. Mulheres que vêm fazendo a diferença no mundo. Venham conhecer estas mulheres que causarão vertigem em 2017!
 
A fotógrafa e artista visual carioca Angélica Dass (Foto: Divulgação)
Angélica Dass é uma fotografa e artista visual carioca radicada em Madri, capital da Espanha, há mais de 10 anos, para onde foi inicialmente para trabalhar como estagiária de um museu espanhol.  Formada em Belas Artes pela UFRJ, Angélica, durante os seus primeiros anos na Espanha, criou junto com outros amigos brasileiros espalhados pelo mundo, o cultuado blog ‘Cajon Desastre’ (que em português significa algo como “gaveta bagunçada”), onde cada colaborador escrevia sobre moda, cinema, arquitetura, artes, design e comportamento, sempre sob o viés do que de melhor acontecia em cada capital do mundo onde cada um deles se encontrava. Depois de um tempo, surgiu a ideia do “Humane”, seu mais ambicioso projeto,
que a tem levado para exposições e palestras nos quatro cantos do mundo, fazendo dela uma das artistas visuais brasileiras de maior renome e prestígio internacionais do momento. Mesmo assim, o nome e o trabalho de Angélica ainda não são muito conhecidos no Brasil. Em “Humane”, a ideia é criar um inventário de “pantones humanos”, catalogando, assim, todos os tons de pele possíveis e imagináveis. Para isso, Angélica já fotografou mais de três mil pessoas em mais de 13 países, até agora. A jornada foi iniciada em 2012 e não tem data para acabar. A ideia inicial surgiu logo quando ela conheceu seu ex-marido, um físico espanhol “com pele de lagosta queimada do sol” e se viu obrigada a responder perguntas esdrúxulas sobre qual seria a cor do filho deles. Daí em diante, a artista teve a genial ideia de fotografar sua família e ela mesma. A mãe de Angélica é uma negra descendente de índios e seu pai, também negro, foi adotado por uma família de brancos no Rio. Em seguida, a artista passou a registrar seus amigos e rapidamente, passou a fotografar desconhecidos. Os cliques sempre sem camisa e em 3×4 com fundo branco acontecem em um pequeno estúdio portátil que ela carrega mundo afora. Depois, a artista recorta um pedaço da ponta do nariz de cada fotografado, cuja cor é usada como fundo de cada foto. Sob cada imagem ela inclui ainda o número da cor de referência retirada da paleta industrial Pantone, tida como a bíblia das cores. Após criar seu Tumbrl e uma página para divulgar as fotos do projeto “Humane” no Facebook, os convites começaram a chegar rapidamente e logo, Angélica já estava expondo os resultados em grandes galerias, museus e praças públicas pelo mundo, como aconteceu em São Paulo, em 2013, numa praça do centro da cidade. Se as cores nunca foram um problema em sua família multiétnica, Angélica percebeu cedo que o mesmo não se aplicava da porta de casa para fora. “O Brasil é um dos piores lugares do planeta para se nascer negro. Há um racismo institucionalizado e escondido”, afirmou ela à revista Serafina, da Folha de São Paulo, para onde concedeu uma entrevista de quatro páginas logo após dar uma palestra que emocionou a audiência do TED, em Vancouver, onde foi aplaudida de pé. Desde dezembro, Angélica está passando férias no Rio de Janeiro, mas, nesse meio tempo, já teve que se deslocar a trabalho. Foi convidada para ser uma das líderes culturais do Fórum Econômico Mundial de Davos, que convocou artistas de grande relevância internacional para inspirar as lideranças mundiais com seus trabalhos e engajamento. Estranhamente, não houve uma menção de sua participação em Davos na mídia brasileira. Em março, antes de regressar a Madri das férias no Rio de Janeiro, Angélica irá a Buenos Aires para participar com o “Humane” do FOLA – Fototeca Latinoamericana.





A cineasta carioca Sabrina Fidalgo (Foto: Divulgação)
Multiartista, a carioca Sabrina Fidalgo é diretora de cinema, roteirista, produtora, atriz e, de vez em quando, assume a persona “Lady Sabrina Queen” em suas performances como DJ nas festas mais descoladas do Rio. “Mas meio que aposentei a LSQ (as suas inicias de DJ) por ora”, avisa. Seu posicionamento “anti-racialização” dos diretores negros no cinema brasileiro é bem conhecido e costuma provocar acalorados debates. Para ela, “aceitar e vestir os papéis oferecidos pelo racismo institucional sem o mínimo de questionamento e ainda prestar-se a servir de ‘token’ apenas para
receber uma rebarba do sistema, ocupando, assim, um nicho racial, sem que isso implique em alguma corrente ou movimento estético, é abaixar demais a cabeça, sem o mínimo de consciência. E isso é algo que não combina em nada comigo. Temos que vencer o machismo, o racismo e as barreiras impostas no cinema brasileiro, sim. Mas o objetivo é a paridade em todos os sentidos e não, o recebimento de reles migalhas”. A diretora da cultuada ficção-científica, “Personal Vivator”, curta afro-futurista estrelado por Fabrício Boliveira, é considerada uma das grandes promessas femininas do cinema e já teve seus filmes exibidos em mais de 50 festivais nacionais e internacionais, em lugares que vão de Tóquio, passando por Maputo, chegando até Los Angeles, entre muitos outros. Em novembro último, Sabrina lançou seu sexto e mais recente trabalho no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, o Curta Cinema, a obra-prima “Rainha”, uma fábula superpotente de 30 minutos sobre o carnaval filmado em preto e branco, que conta a saga de uma jovem negra e periférica (interpretada pela atriz e musa da diretora, Ana Flavia Cavalcanti) que luta para realizar o sonho de se tornar a rainha da bateria da escola de samba de sua comunidade. A cineasta realizou “Rainha” após ter sido a diretora convidada e escolhida pelo comitê do edital de curtas “Fábrica de Cinema”, financiado pelo Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais. Com isso, o projeto também foi contemplado com o patrocínio da empresa Energisa. E antes mesmo do encerramento da última edição do festival carioca, o filme já havia sido aclamado pela crítica especializada como um dos maiores ensaios estético-antropológicos sobre o Carnaval no cinema e recebido mais quatro prêmios de outro festival, o Ver e Fazer Filmes. Ao final do Curta Cinema, “Rainha” foi laureado com o prêmio de melhor filme pelo Júri Popular. Filha única de Ubirajara Fidalgo, dramaturgo negro pioneiro e criador do T.E.P.R.O.N (Teatro Profissional do Negro) e da produtora, cenógrafa e cofundadora do T.E.P.R.O.N, Alzira Fidalgo, Sabrina cresceu em um ambiente cercado por arte, política e militância. Começou a atuar na companhia dos pais ainda aos dois anos de idade como mascote do T.E.P.R.O.N e, além disso, cresceu fazendo participações esporádicas em comerciais, filmes e programas de TV. Aos 21 anos, trocou o curso de Artes-Cênicas na Uni-Rio por um curso alemão em Munique, Alemanha. Estudou cinema e documentário na Escola de TV e Cinema de Munique e, em seguida, após participar de um disputado concurso com vários alunos europeus, foi a única latino-americana a ganhar uma bolsa integral para cursar especialização em roteiro na Universidade de Córdoba, na Espanha. Àquela altura, a jovem realizadora já estagiava em diferentes funções nas produções da escola e em outras produções independentes europeias e, em pouco tempo, realizava os seus primeiros curtas. Ao ser premiada pelo Lateinamerika-Institut da Universidade Livre de Berlim, pelo curta “Black Berlim”, Sabrina retornou de vez ao Brasil e abriu sua própria produtora independente junto com sua mãe, a “Fidalgo Produções”, com a qual realizou, até agora,  seis curtas, um documentário musical de média-metragem para a TV e vários videoclipes. No final de 2016, Sabrina ganhou a primeira retrospectiva de sua carreira promovida pelo Centro de Artes da UFF, onde todos os seus curtas foram exibidos no Cine Arte da universidade em Niterói, Rio de Janeiro. Uma nova retrospectiva de sua obra ocorrerá, desta vez na Central de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação da UFRJ, prevista para acontecer no mês de abril. Enquanto isso, a cineasta ocupa-se com a carreira nos festivais e mostras do recém-lançado “Rainha” e trabalha em uma série de outros projetos para o cinema, teatro e TV, entre eles, o maior de todos os seus projetos, o seu primeiro longa de ficção. Todos os projetos terão a participação de seu “Iansamble” (mistura de Iansã com “emsamble”, que quer dizer grupo, em francês) o mesmo grupo de atores e técnicos com os quais vem trabalhando desde “Personal Vivator”.


A filósofa e ativista do feminismo negro Djamila Ribeiro (Foto: Divulgação)
Feminista brasileira, pesquisadora e mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo, Djamila Ribeiro foi secretária-adjunta de Direitos Humanos e da Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad. Virou a maior referência do feminismo e do movimento negro no Brasil graças aos seus posicionamentos firmes e didáticos como colunista da revista Carta Capital, aos seus textões no Facebook e a maciça participação em debates por todo o Brasil. Arrasadora, Djamila, que também é dona de um invejável carisma, consegue nocautear seus interlocutores sempre com respostas sensatas sobre questões que envolvem a situação da mulher negra brasileira. Suas recentes aparições em programas televisivos aumentaram sua popularidade por todo o país, o que a levou a estrear como apresentadora de seu próprio ‘talk-show’, o “Programa de Entrevista”, que debutará este ano no Canal de TV a cabo, Futura. Djamila nasceu em Santos, cidade do litoral de São Paulo, e ainda na infância entrou em contato com a militância política por influência de seu pai, um estivador que era fazia parte do movimento negro, comunista e autodidata, que mesmo com pouco estudo formal, era um erudito e mantinha uma grande biblioteca em casa. Ela é a mais nova de dois irmãos e uma irmã, e guarda memórias de uma infância feliz, com os cabelos sendo trançados por mãe e avó, aulas de xadrez na União Cultural Brasil-União Soviética (foi medalhista de bronze, aos oito anos, em um campeonato de xadrez santista), tardes no Partido Comunista de Santos, que o pai fundou ao lado de outros militantes. No entanto, já na primeira série do Ensino Fundamental (o equivalente atual ao segundo ano), o racismo se tornou cada vez mais presente em sua vida, por meio de xingamentos de colegas de classe, exclusão, falta de preparo de profissionais de educação para lidar com a situação e outras questões, o que foi minando sua confiança em si mesma. Aos 18 anos, envolveu-se com a Casa da Cultura da Mulher Negra, uma organização não-governamental santista, e passou a mergulhar cada vez mais em temas relacionados a gênero e raça. Djamila, que se mudou recentemente de Santos para um apartamento em São Paulo, ainda consegue conciliar tantos compromissos profissionais com a maternidade. É mãe de uma menina de 11 anos.

A cineasta americana Ava DuVernay (Foto: Divulgação)
A americana Ava DuVernay é diretora, roteirista, produtora, publicitária e comanda a distribuidora de filmes, Array, na Califórnia. Ava é considerada, hoje, uma das mais famosas e poderosas diretoras mulheres do cinema independente norte-americano e seu nome lidera sempre o topo das listas das maiores e mais promissoras realizadoras do cinema mundial. Em 2012, Ava foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio de melhor direção no festival Sundance com o seu segundo longa, “The Middle of Nowhere”, a primeira mulher negra a concorrer ao Globo de Ouro de melhor diretora e ao Oscar de melhor filme e melhor direção com o seu aclamado longa “Selma – A Marcha da Liberdade”, sobre a marcha liderada por Martin Luther King contra a segregação racial e pela defesa dos direitos da comunidade negra nos EUA. No próximo dia 28, voltará ao Kodak Theater outra vez, desta vez concorrendo com seu novo filme, “A 13ª Emenda”, produzido pelo Netflix, na categoria melhor documentário. O documentário já é tido como o favorito nos bolões do Oscar e, caso a profecia se concretize, Ava será, de fato, a primeira mulher negra diretora a ganhar uma estatueta na história do Oscar. Em “A 13ª Emenda”, Ava propõe um amplo debate sobre a situação racial nos EUA em plena era Trump, traçando um paralelo entre a situação penal americana e o fim da escravatura nos Estados Unidos. Nessa época, havia uma grande necessidade de mão-de-obra barata, então, a solução foi acusar parte dessas pessoas recém-libertadas por crimes banais como vadiagem, levando-as a trabalhar sob custódia. Ava estabelece uma relação direta entre a abolição da escravatura, a segregação racial e a guerra contra o crime e contra as drogas. O resultado é um fenômeno de encarceramento em massa num país onde as prisões são um grande negócio. Ava é uma das mais importantes vozes no debate sobre diversidade em Hollywood, e está pondo a mão na massa para mudar os rumos da indústria cinematográfica. Um exemplo disso é o trabalho que ela desenvolve com a sua distribuidora, cujo foco é distribuir trabalhos de cineastas mulheres e de minorias, dando visibilidade a obras que talvez jamais viriam a público. Ao L.A. Times, Ava disse: “Eles estão se perguntando: ‘Por que fazer algo que ninguém vai assistir?’. Há um desrespeito inerente à distribuição. Há uma segregação cinematográfica em como os filmes são ou não são vistos. O que estamos dizendo é que não vamos mais depender disso a partir de agora. A Array vai atuar não apenas nas salas de cinema, mas também em plataformas como o Netflix. O consumidor está decidindo o que quer ver, quando e como quer ver, e cineastas estão cada vez mais cientes disso, e aceitando o fato de que o sucesso não depende de ter o filme no cinema tradicional”. Ava DuVernay é uma das arquitetas dos novos tempos e está fazendo história nesse romper de barreiras que dará à muita gente um espaço precioso na cultura audiovisual.